quinta-feira, 18 de setembro de 2008

A cegueira em todas as direções


Ontem assisti "Ensaio Sobre a Cegueira", do Fernando Meirelles. O filme peca pela adaptação, basicamente. Embora não tenha lido o livro, me ficou a sensação que o filme vai em várias direções, ao invés de se ater a uma; quer abarcar idéias demais, ao invés de se aprofundar em uma. É um filme catástrofe, e também um filme de opressão, tratando da situação limite dos seres humanos terem que se rearranjar em grupos e perderem a "civilidade" original. O filme me lembra "Metrópolis", "1984", os filmes dos campos de concentração no geral, e também "Guerra dos Mundos", do Spielberg. Enquanto Meirelles não cai na armadilha do sentimentalismo deste último, polarizando indivíduo (relações familiares) e massa (falta de sentimento), ele peca por não ter claro um ponto de vista. O filme começa patinando um pouco, até que no claustro em que os personagens se encontram vão se perdendo as noções de civilidade, e então o filme ganha força em seu argumento, e pensamos "será que vai ser um filme-Saló"... por que a força do filme está na polaridade ser humano-não civilidade. Quando eles saem, respiramos aliviados, mas o filme se dilui em conteúdo, ganhando apenas no nosso deliciar em ver São Paulo como uma metrópole futurista e caótica. O fim do filme, um "reestabelecimento da ordem", não chega a convencer justamente porque o argumento principal do filme não chegou a ser provado, pois ele não chegou a ser esclarecido. Temos todas as teorias sobre a cegueira: a metáfora, o fotógrafo de cegos, e até a conotação religiosa e cristã daquele que vê entre os cegos. As mudanças dos protagonistas não são o primeiro plano do filme, o que não seria um problema, se o filme colocasse em primeiro plano seu deus- ex- machina: Se for dada a oportunidade, nos transformaremos em animais e destruiremos uns aos outros. A idéia de Orwell na "Revolução dos Bichos" era exatamente essa. Também como variante, a de Pasolini em Saló. Meirelles parece então um democrata falando sobre o absolutismo e suas variantes. Faltou ir além da metáfora da cegueira-cinema.

O site do filme é fantástico e merece não só uma visita, como deixar a trilha correr, como estou fazendo agora.

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