quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Linha de Passe


Antes de ver "Ensaio sobre a Cegueira" eu assisti "Linha de Passe", de Walter Salles e Daniela Thomas. O interessante é como os dois filmes rimam em incorporar São Paulo como ponto de partida de inventar um novo cinema brasileiro. Enquanto Meirelles é internacionalista e traz grandes estrelas para cá, Walter e Daniela partem do nosso bom e velho "neo-realismo" brasileiro, cuja representante mór é claro, a preparadora de atores Fátima Toledo. Desde "Pixote" de Babenco o cinema brasileiro aposta nessa tese, e "Cidade de Deus" mais do que nenhum outro filme mostrou a força dela. No caso de "Linha de Passe", não são atores amadores, mas rostos desconhecidos que não supomos que são atores. Tudo isso traz o frescor do "autêntico", do "ainda não estabelecido", do que "ainda não conhecemos". A trilha do filme é fantástica, um dos pontos altos do filme para mim. Também gostei muito de Vinícius de Oliveira, que para mim, estaria lá só para constar..."eu não sou um novo Pixote", "o cinema não me engoliu" etc. Qual não foi minha surpresa de ver um ator maduro, com o talento lapidado, com uma presença maravilhosa e um maravilhoso entendimento do seu personagem. Vinícius é a presença mais marcante do filme, e também a mais ingênua de todas. O filme peca, na minha opinião, pelo desastroso "já perdemos". Não há saída para o cinismo da mãe (no Central tinha, lembra); nem para o crescimento acelerado do menino (em Central tinha, lembra!); o motoboy, que lembra o Fernando Alves Pinto de Terra Estrangeira, também não sonha em ir para a Espanha e realizar o sonho de ninguém; e finalmente o Evangélico, o pior personagem do filme, pois é tratado como um manipulado, num mundo onde a religião só existe como farsa.

Bom não preciso dizer que não gostei do filme, mas deixe-me explicar melhor. Não gosto da premissa do filme ser uma idéia formalista, que não abarca seu conteúdo. A Linha de Passe é a ligação imaginária entre os personagens, e o clímax do filme, o resultado dessa linha. Mas ater-se a boas idéias nunca gera um bom filme. Não vamos ao cinema para ver boas idéias. O próprio filme tem que ser a prova viva dessa ídéia.

O filme pesa tanto a mão no começo que ele nunca sai do chão. Ele se divide em cinco narrativas e acaba não aprofundando nenhuma. Eu comparava o filme a Central do Brasil, e quanto mais eu comparava mais eu achava que o filme não levantava vôo. Central levanta um vôo maravilhoso na simplicidade de seu argumento. Esse filme fica no chão por que é todo "imbutido" de idéias maravilhosas e interessantíssimas, mas que não deixam o filme deslanchar. Depois de uma hora e meia, ninguém aguenta mais aquela pobreza toda e aquele mundo sem esperança.

Linha de Passe afirma duramente que não há saída. É uma afirmação que é dura de engolir. Me mostra uma saída, parece o expectador implorar. Já para o fim do filme, o clima está pesado demais, e já desistimos de gostar do filme.

Termino citando um ditado chinês, que diz "quando o homem perdeu a inocência, para onde ele pode ir".

E pedindo aos cineastas e cineastas brasileiros um pouco mais de inocência, um pouco mais de infância, um pouco mais de magia, um pouco mais de coisas boas.

Um comentário:

Tamayo Nazarian disse...

Um pouco mais de memória

( um pouco mais de respeito )

T.